segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Permita-se

Era um domingo comum, como todos os outros que vivera este ano. Apesar da noite anterior ter sido uma das mais difíceis de ser superada. Seus pensamentos o assombravam, enquanto a lua cheia iluminava o seu quarto. Quase, por mais uma vez, se entrou a escuridão que o tentara dominar. Há quem diga que algo, naquela noite, o segurou com firmeza. Mas, há quem diga que, tudo não passara de uma enorme coincidência. Por algumas horas observou a lua, já não tão bela, encoberta pelas negras nuvens que traziam consigo a chuva. E quando não o restava mais esperança, fechou os olhos e dormiu. Mal sabia que aquele domingo comum, como todos os outros, já tivera nascido. - Permita-se! Sussurrou algo dentro dele. Os raios solares que ousavam romper as  barreiras entre o exterior, além da janela, cortava sua escura cortina e, o atingia no rosto. Sua cabeça, ainda pesada da noite mal dormida, fadigava todo o seu corpo. Mas, como aquele era um domingo comum, como todos os outros, já sabera que não aconteceria nada demais. Dormia diversas vezes entre as partes daquela manhã que se estendia tarde, aguardou a noite chegar para reviver velhos hábitos. Em seu último cochilo, alegou pra si mesmo que descobrira um medo que o dominava. Não conseguia explicá-lo. Apenas o sentia. Partiu sem saber o que o aguardava. Estaria realmente disposto a novos sacrifícios? Naquele domingo comum, como todos os outros, seus passos perdidos guiavam-se pelo brilho da lua. Quem o viu aquela noite, logo descobriu que aquele copo precisava ser preenchido. Foi então que ela surgiu. Perdeu o chão sobre seus pés, já havera passado por aquilo antes. Com a mesma pessoa, dona de um sorriso encantador e de um toque reconfortante. Sim! Permitiu-se tocá-la. Foi surreal. Instantaneamente lembrou de todos os momentos que viveram juntos e, consequentemente, do que os afastara. Enquanto a lua iluminava aquele domingo comum, como todos os outros, olhares cruzavam-se com uma certa frequência, num determinado ritmo. Saberia ela o que ele estava pensando? Lembrou-se de como seus pensamentos se completavam. Entretanto, o tempo passara e, essas coisas costumam perder-se. Coincidência? Talvez. Preferia acreditar que seus caminhos tinham se cruzado mais uma vez. Enquanto abraçavam-se reviveram toda sua história. Mãos perderam-se em seus corpos. Quando perceberam, centímetros separavam seus rostos, permitiram-se! Como se não houvesse mais ninguém por perto. Como se aqueles corpos fizessem parte de um enorme quebra-cabeças de duas únicas peças. Por fim, amaram-se! Não precisavam de nenhuma explicação lógica para o que estava acontecendo. E, aquele domingo comum, como todos os outros, se tornara um tanto especial. Não sentiram nostalgia. Nunca tiveram tão à vontade. Como se o tempo que passaram longe, fosse seu aliado, para aquele reencontro deixar uma marca. Caminharam. Por um dado momento ousaram tentar descobrir o que tinha acontecido. Desistiram. Ambos conheciam o sofrimento e, ambos o temia. Estavam felizes. Não importava o que dissessem. Sentiam-se leve. Rodopiando pelas ruas protegiam-se um ao outro. A lua, daquele domingo, que deixara de ser comum, dominava todo o céu. Era como se ela tivera planejado aquele encontro. O jeito dela o encantava, os olhos dele à atraia. Perdiam-se em sorrisos bobos entre uma frase ou outra e, beijavam-se naturalmente. Quem passava por aquela rua até palpitaria em estar vendo um casal de longa data. Todavia, eles sabiam que aquela noite mágica estava chegando ao fim. Eram de longe, pessoas que teriam tudo para dar certo. Despediram-se. Não fizeram planos. Muito menos marcaram novos encontros. Um "até logo" foi o suficiente para despedirem-se com um sorriso no olhar.

Liffá Henrique

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